Ainda há esperança na reinserção social

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A Fundação Porta Aberta é uma ONG com várias unidades e que uma dessas atua na região da Penha. Sua unidade na Penha é uma grande casa, onde cada cômodo é uma área de convivência ou de estudo para os beneficiários. Assim que cheguei no local, uma turma estava do lado de fora da casa, sentados na calçada, tomando café e fumando cigarro, aproveitando o momento para descansar. Com objetivo de reinserir no mercado de trabalho pessoas em situação de vulnerabilidade que estão em tratamento do uso de álcool e drogas, a ONG realiza qualificação profissional por um de cursos profissionalizantes.

A unidade da Penha comporta ao todo cem beneficiários, que realizam cursos com duração de 4 meses cada para se profissionalizar. Ao todo são oito unidades da Fundação Porta Aberta que estão espalhadas pela cidade de São Paulo em pontos que possuem maior número de pessoas em vulnerabilidade. Desde sua fundação, ao todo já foram cerca de mil beneficiários acolhidos no total de todas as unidades da ONG.

Ravena Araujo Silva, de 29 anos, atua na Fundação Porta Aberta como psicóloga, para realizar acompanhamento dos que estão sendo atendidos pela ONG. “Os cursos disponibilizados na nossa unidade pela manhã são culinária e agricultura urbana, durante a tarde nós temos sustentabilidade e construção civil”, diz Ravena. Cada curso é dividido em módulos que são realizados um a um pelo beneficiário para que ele tenha abrangência no assunto que deseja trabalhar. Por exemplo, na culinária, o módulo atual é a produção de pizzas e salgados.

Os cursos sempre promovem que o beneficiário da ONG esteja atualizado das demandas e procura do mercado atualmente, para que esse consiga se estabilizar na área que deseja seguir. O curso de construção civil oferece conhecimentos em pintura, hidráulica e elétrica.

“Nesse processo a gente também faz o trabalho da reinserção social. A gente leva eles para conhecerem museus, para conhecerem parques”, diz a psicóloga. Ravena comentou que há um trabalho das questões socioemocionais com os beneficiários da ONG na Penha, pelo curso de formação pessoal e cidadã, que ocorre todas às segundas-feiras.

Larissa Silva, de 32 anos, trabalha no POT Redenção, programa do governo de São Paulo voltado para pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas. Para trazer os beneficiários para o programa, a porta de entrada é o CAPS da região. “A gente trabalha em um tripé, o CAPS, que é a saúde mental desse usuário, o SIAT, com a moradia e, o POT, com a inserção no mercado de trabalho”, diz a assistente social. A ideia é que com os três programas, o usuário consiga se organizar e sair do contexto de vulnerabilidade extrema no qual normalmente se encontra no começo do processo.

Larissa ainda comenta que mesmo que a Fundação Porta Aberta tenha como principal objetivo a reinserção no mercado de trabalho, ela vê que nem a sociedade e nem o mundo do trabalho está preparado para lidar com todas as questões sociais que esse trabalhador trás assim que entra no programa. Como a maioria dos beneficiários possuem escolaridade incompleta, o retorno para o mercado sem uma escolarização mínima, pelo menos, é um dos maiores desafios que vão ser enfrentados. Seus objetivos dentro do programa se tornam mais desafiadores já que é necessário lidar com essa baixa escolaridade.

Na sua experiência trabalhando na ONG, houve um caso que foi o que mais impactou Larissa, pois além de toda a vulnerabilidade vivida pela beneficiária, ela carrega consigo marcas de classe e raça e sofrimento, lidando com sua sexualidade e as violências da vida. Essa mulher no final encontrou no programa um local de coletividade onde pode ser cuidada e acolhida pelos que estavam à sua volta. “Uma mulher trans, negra de 55 anos, e eu acho que me impactou pelas tamanhas atrocidades nas quais ela sempre lidou durante toda sua trajetória de vida”, diz Larissa.

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