Plantio urbano muda cenário da Zona Norte e engaja comunidade em ações ambientais

Quarta ação de reflorestamento urbano realizada pela Subprefeitura Casa Verde/ Limão/ Cachoeirinha aposta no engajamento comunitário e na educação ambiental para combater os efeitos das mudanças climáticas

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Mudas separadas para o plantio. Créditos da foto: Giovanna Melim.

A Zona Norte de São Paulo tem sido palco de uma transformação ambiental significativa. No último mês, a Subprefeitura Casa Verde/ Limão/ Cachoeirinha realizou sua quarta ação  de plantio de árvores nativas, em áreas que antes eram pontos de descarte irregular de lixo, margens de córregos abandonadas ou terrenos baldios. A quarta ação foi realizada no dia 22 de março, no bairro Jardim Peri. A proposta é de recuperar espaços danificados, aumentar a cobertura vegetal e promover uma cultura de cuidado com o meio ambiente a partir da base, a comunidade.

“O principal objetivo dessas iniciativas é minimizar os efeitos das mudanças climáticas. As chuvas intensas e os ventos fortes que temos presenciado não são normais. Precisamos repor essas árvores para manter o equilíbrio ambiental e evitar que a situação piore ainda mais”, afirmou o subprefeito Eduardo Valentim.

As ações não se limitam ao plantio. Elas envolvem educação ambiental, arte e cultura, com a revitalização de locais que antes representavam riscos à saúde pública e ao meio ambiente. É o caso do chamado Muro do Samba, que já foi um lixão e hoje abriga murais em homenagem aos sambistas da região, além de um pequeno parque e áreas com mudas de espécies da Mata Atlântica.

“Estamos trabalhando em locais que antes eram esquecidos. Em muitos pontos, como na Inajar de Souza, tínhamos acúmulo de lixo e espaços degenerados. Agora estamos implantando áreas verdes com espécies frutíferas e nativas, além de jardins de chuva e equipamentos de ginástica”, completou Valentim.

Programa municipal e participação comunitária

Segundo o vereador Paulo Frange (MDB), a iniciativa faz parte de um programa maior da gestão municipal. “O plantio faz parte de um programa que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) estabeleceu na cidade, com a meta de alcançarmos 120 mil árvores plantadas. E não se trata apenas de plantar por plantar, estamos fazendo isso com técnica, respeitando o bioma da região”, explicou. O vereador também destacou o uso do jerivá, palmeira nativa da Mata Atlântica e o cuidado com o espaçamento entre as árvores para garantir um crescimento saudável.

Para Frange é grande o papel da comunidade na preservação desses espaços e na construção de uma consciência ambiental. “Esse programa tem buscado envolver a comunidade, especialmente as crianças, para que elas sintam que pertencem a esse espaço e desenvolvam esse senso de cuidado”, afirmou. “Além disso, as crianças estão recolhendo plásticos nas margens da Cantareira. Isso é educação ambiental na prática.”

O vereador também chamou atenção para a importância do acompanhamento e fiscalização, após o plantio. “A Secretaria do Verde está centralizada no centro da cidade, mas aqui quem atua é a Subprefeitura. A nossa responsabilidade é acompanhar esse processo. E quando há irregularidades, como descarte de lixo, a Guarda Civil é acionada. São ações educativas, sim, mas também de fiscalização. A punição existe, e não é leve.”  A multa para descarte irregular de lixo pode variar de 500 a 25 mil reais, dependendo da gravidade da infração.

Planejamento, técnica e engajamento social

A ação é conduzida de forma integrada entre diferentes órgãos da administração pública. “ É um projeto da Prefeitura de São Paulo, coordenado pela Secretaria de Mudanças Climáticas, Secretaria do Verde e Meio Ambiente e Secretaria de Subprefeituras. É uma iniciativa integrada que visa reflorestar a cidade e mitigar as mudanças climáticas”, explicou o engenheiro ambiental da prefeitura de São Paulo, Danilo Augusto, que também participou das ações de plantio.

Danilo Augusto  destacou o uso de mapas de calor para a escolha dos locais mais críticos da cidade. “O plantio de árvores nativas é essencial para restaurar o ecossistema original da cidade, garantir abrigo e alimento para a fauna local e reduzir ilhas de calor. Buscamos áreas livres e degradadas, e muitas vezes a própria população indica os pontos de plantio. Isso gera engajamento e apropriação coletiva.”

Outro importante pilar do projeto é o envolvimento direto de moradores e de projetos sociais. A presidenta do Projeto Gerando Frutos, Vânia Mello, participou da quarta ação de plantio, no Jardim Peri, e envolveu as crianças da comunidade. “A gente trabalha com sustentabilidade, com meio ambiente, então isso tem tudo a ver com o que está acontecendo aqui hoje. Já temos esse envolvimento com as crianças no projeto, e essa ação vem para somar com o trabalho que a gente realiza”, contou.

Crianças se preparando para iniciar o plantio das mudas. Créditos da foto: Giovanna Melim.

Segundo ela, as ações anteriores já mostraram resultado e têm sido acompanhadas. “Fizemos uma ação como essa na mesma região no ano passado, e desde então estamos acompanhando o espaço. A comunidade precisa ser parte disso. Usamos esses locais no dia a dia. Se a gente planta junto, a gente cuida junto”, concluiu.

Reflorestamento com técnica e continuidade

As quatro primeiras ações da Subprefeitura já somam cerca de 180 mudas plantadas. Além do reflorestamento, as ações incluem instalação de aparelhos de ginástica, arte urbana, recuperação de córregos e implantação de jardins de chuva.

Ao falar sobre a manutenção das árvores, Ricardo José Alves, supervisor de habitação da Subprefeitura, destacou que há um plano técnico em andamento. “Utilizamos gel para retenção de umidade, adubos específicos e fazemos o monitoramento constante. Em Tabatinguera, por exemplo, perdemos apenas uma muda. Se necessário, fazemos reposição. O importante é garantir que essas áreas permaneçam verdes e vivas.”

Os locais escolhidos para as ações, como Inajar de Souza, Muro do Samba, UBS do Jardim e Tabatinguera, compartilham um histórico de abandono, degeneração e descarte irregular de lixo. A recuperação desses pontos tem impacto direto não apenas no meio ambiente, mas na segurança dos moradores.

De acordo com a Subprefeitura Casa Verde/ Limão/ Cachoeirinha, a meta é alcançar 500 mudas plantadas até o fim do ano, consolidando uma cultura de cuidado ambiental integrada à vida urbana. A transformação das áreas verdes na Zona Norte mostra que, mais do que ações pontuais, o plantio urbano exige continuidade, técnica, participação popular e compromisso político.

Trabalhadores da prefeitura finalizando a plantação de mudas. Créditos da foto: Giovanna Melim.

Contradições: enquanto umas regiões ganham árvores, outras perdem vegetação para o avanço imobiliário

A preocupação da prefeitura, no entanto, não parece a mesma em todas as regiões da cidade. A gestão do prefeito Ricardo Nunes vem sendo criticada por autorizar práticas que contradizem o discurso de sustentabilidade adotado em algumas regiões. A poda de árvores em excesso, muitas vezes sem critério técnico, e a liberação para derrubada de vegetação nativa por construtoras, são alvos de protestos e ações do Ministério Público.

Na Zona Oeste, o bairro de Perdizes se tornou um símbolo dessa contradição. Como mostrou na reportagem de Álvaro Ornelas, moradores lutam contra a remoção em massa de árvores autorizada pela prefeitura para dar lugar a condomínios de luxo. Na Rua Sebastião Cortes, mais de 2.000 m² de bosque foram desmatados para a construção de um empreendimento imobiliário. A construtora responsável, autorizada a cortar 55 árvores nativas, propôs como compensação o plantio de 90 mudas dentro do condomínio e a doação de 349 mudas sem local definido, medida considerada “sem sentido” por moradores.

Existe ainda o projeto viário da avenida Sena Madureira, que prevê a derrubada de árvores centenárias para ampliação de faixas de rolamento, colocando em risco o que resta de vegetação madura na região do Ibirapuera. A proposta, é criticada por ambientalistas, porque ignora a importância da vegetação em corredores urbanos consolidados, que poderiam ser requalificados sem a perda verde.

 

 

 

 

 

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