Projeto visa resgatar a memória esquecida Liberdade

0
67

Por Beatriz Cacelli, Júlia Fernanda e Luísa de Castro

Prefeitura cria concurso para construção do Memorial dos Aflitos

A região da Liberdade já foi conhecida como o centro institucional por onde passavam os negros na época da escravidão. Essa parte da história do bairro foi apagada devido a grande imigração japonesa no século XX. As pessoas passeiam pelas ruas da Liberdade sem imaginar o que se passava ali antes da chegada japonesa e o porquê de o bairro ter o nome que tem.

Com o objetivo de reviver uma parte da história da cidade, a prefeitura de São Paulo criou um concurso para a construção do Memorial dos Aflitos, para reconhecer a história ocorrida no bairro da Liberdade com o povo negro. O edital saiu no Mês da Consciência Negra em 2022 e o projeto ainda está em elaboração.

“As obras só poderão ser iniciadas após a entrega final do Projeto Executivo do proponente vencedor do certame. Após essa etapa, será realizada, através de chamamento público, uma licitação para contratação de empresa para execução das obras, tendo o prazo de início atrelado à finalização de ambos os processos”, informou Marina Baldocchi, da Secretária Municipal da Cultura.

A partir da fundação da Irmandade do Rosário em 1720, a Liberdade se tornou um território da população negra da época, onde podiam realizar suas celebrações e conviver entre eles. Porém, foi lá também onde enforcaram milhares de pessoas negras.  

O que conhecemos hoje como “Largo da Liberdade” antes era chamado de “Largo da forca”, visto que era o local onde escravizados “fugitivos” eram executados após serem condenados à pena de morte. Após a extinção da pena de morte o largo passou a ser chamado de “Largo da liberdade”. A mudança no nome também foi devido ao enforcamento de “Chaguinhas”, Francisco José das Chagas, um militar negro que liderou uma revolta em Santos e foi punido com pena de morte em 1821.

A morte de Chaguinhas se tornou conhecida, pois foram necessárias três tentativas para enforcá-lo, que no final acabou morrendo por pauladas, enquanto o povo à sua volta clamava por liberdade. O militar se tornou um mártir daquela sociedade, que passou a adorá-lo como um exemplo de rebelião. Até hoje, fiéis deixam pedidos na fresta da porta da Capela dos Aflitos, onde Chagas ficou preso.

A famosa Capela dos Aflitos, que fica localizada entre a Rua Galvão Bueno e a Rua da Glória, era reservada ao sepultamento de escravos, de indígenas e de pessoas condenadas à morte na forca.  Escondido pelo turismo, parte do bairro foi construído em cima do Cemitério dos Aflitos, ou Cemitério dos Enforcados. Era ali, sem um pingo de humanidade, onde eles enterravam os escravizados condenados.

A adição do nome “Japão” no bairro Liberdade gerou muita revolta no povo negro, pois o lugar já pertencia à cultura deles antes da imigração japonesa, e com essa mudança no nome, a história negra fica cada vez mais apagada e perdida da memória de São Paulo.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui