Bruna Ribeiro
Rua larga, feita de paralelepípedos. A simetria das casas geminadas chama a atenção de quem passa. As pinturas vivas, renovadas com as mesmas cores todos os anos, encantam o olho de quem vê. Com suas grandes janelas brancas e seus telhados característicos da Europa, se encontra a rua Normândia, em meio à Moema.
Na tentativa de fugir da estética do bairro residencial em que se encontra, onde a modernidade é visível e os grandes prédios tomam conta da paisagem, a rua, com um pouco mais de cem metros, resiste aos modernismos. Porém, apesar das árvores que vão de uma esquina à outra, chamando as borboletas para perto, e da arquitetura caracterizada como antiga, é impossível deixar de notar o mundo contemporâneo na rua Normândia.
Em meio às pequenas casas, está a Mameg, uma loja de decorações que tem sua fachada amarela-esverdeada. Trabalhando na área externa, encontra-se Josilene de Jesus Rodrigues. Uma moça jovem, em seus 20 e poucos anos, com os cabelos nos ombros e o sorriso largo. A simpatia e o brilho no olho tornam a mulher o foco.
Enquanto varre o chão, comenta de como nunca foi a Paris, mas como se sente na cidade francesa ao divagar olhando a rua em que trabalha.
São dois anos desde que começou a sonhar que estava na Europa e que se sente bem com a natureza que a entorna.
Carros, caminhões e aviões são o que dão som à rua. As aeronaves, prestes a pousar, criam um entorno em que se torna difícil continuar a ouvir a conversa. Apesar disso, a quantidade de pedestres continua sendo mais intensa que a dos automóveis.
Ao sentar e observar a rua no horário da manhã, é possível notar muitos idosos caminhando, algumas famílias com os seus cachorros e jovens com uma pressa evidente e com seus fones de ouvidos.
Josilene confirma em sua fala a descrição que aqui coloquei e, em forma de denúncia. “Indico à todos para que venham visitar a rua Normândia, mas só para passear, tudo que se vende aqui é muito caro”.
Em meio a isso, encontrei um homem de idade; alto, cabelos grisalhos e reluzentes olhos verdes. Perto de completar seus noventa anos, está Frederico Ponte. O senhor, que mora em Moema há 42 anos, se mostrou extremamente inteligente e não poupou palavras ao expressar sua oposição à derrubada das casas para a construção de prédios.
Ao ser questionado sobre como o bairro poderia ser caracterizado, Frederico responde: “É um abre e fecha sem fim. Os comerciantes têm uma ideia errada dos moradores de Moema. Eles acreditam que todos são de uma classe alta e, por isso, vendem produtos extremamente caros”.
Ingleses e alemães foram quem começaram a povoar a área em que hoje conhecemos como Moema. Na década de 30 as indústrias chegaram e, com elas, muitos imigrantes.
O bairro ainda era conhecido como Indianópolis, apesar da mudança, a rua continua lá. Jânio Quadros, prefeito de São Paulo da época, atendeu o pedido de um abaixo-assinado dos moradores e, assim, surgiu o nome como conhecemos.
Hoje, na rua Normândia, as aparências das casas fazem lembrar o tempo em que o bairro ainda não tinha um nome definido. Os telhados, projetados para aguentar o frio, esperam a neve inexistente do Brasil. Os amantes da Europa passam pelas lojas e não conseguem segurar a vontade de tirar fotos. A modernidade, sem querer, chega à rua antiga.
Frederico relembra de como, anos antes, o movimento era grande na região. Os caminhões denunciam o motivo. Comprar on-line é uma das consequências da internet. A facilidade de adquirir produtos sem sair de casa atrai o consumidor.
As pessoas que continuam a comprar à “moda antiga”, passam pelas propriedades e se mostram muito educadas. A cada pessoa que passava, era um novo “bom dia” pronunciado por Josilene.
Às 11h, o restaurante vizinho da loja amarela-esverdeada abre. Philippe conquista os olhares com suas mesas azuis posicionadas no ambiente externo. As cadeiras listradas se misturam com as plantas que rodeiam o lugar.
As pequenas lâmpadas, penduradas no teto, deixam o local aconchegante. Josilene admite que nunca experimentou a comida do local que chama a atenção, mesmo trabalhando na limpeza da casa ao lado, mesmo assim, a mulher cumprimenta todos os trabalhadores. Ela os descreve com muito carinho e faz transparecer a educação que passeia pela rua Normândia.
Do outro lado da calçada, sentado na sombra de um guarda-sol está o manobrista conhecido como Doma. Vinte e dois anos trabalhando no mesmo lugar. Caracterizado como ranzinza, porém atencioso. Procuro respostas do homem sobre o quarteirão que faz viajar sem sair do país. No entanto, o idoso preferiu manter a discrição. O charme da rua encanta os moradores. A rua larga, a simetria, as pinturas, as janelas e os telhados trazem consigo a história da Normândia. As lojas de roupas e sapatos, como a Arezzo, Les Cloches e Lefah mantêm a preservação da arquitetura e das árvores que, apoiada por Josilene e Frederico, é o maior desafio dos moradores de Moema.