São Paulo é um lugar com uma desigualdade social extrema. De acordo com o Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), mais de 103 mil pessoas estão em situação de rua no estado.

Porém, existem pessoas e instituições que fazem trabalhos para ajudar os mais necessitados, como por exemplo o “Grupo da Sopa”, uma ONG que prepara e distribui marmitas nas noites de quinta-feira e no almoço aos sábados. O Grupo funciona sempre com o intuito de ajudar as pessoas que não tem as condições de se manterem e nem de comprar seu próprio alimento para sobreviver.

As etapas de produção do Grupo consistem em remover tampinhas e rótulos de garrafinhas, depois disso todas elas são lavadas pois são garrafas que já foram utilizadas. Além disso a comida, que é preparada todos os dias, é feita por todos os voluntários, eles se revezam em todas as etapas de produção da marmita. É necessário pesarem os legumes que são cortados e congelados para não estragarem e poderem ser utilizados nos outros dias, após todos os processos a marmita é montada com uma garrafa de suco, água e algum doce de sobremesa.

Paula Martins Ramos, de 28 anos é advogada e voluntária desde 2022 e começou a frequentar a ONG com seu marido que já está lá há 4 anos. “Meu marido conheceu o Grupo da sopa quando tinha 18 anos, aí ele começou a frequentar, mas parou, depois a gente começou a namorar, ele me apresentou pra cá e agora a gente vem religiosamente todo sábado”, conta Paula.

Ela revelou que o motivo de tirar o rótulo é para não criar uma expectativa nas pessoas. “Às vezes a gente dá uma garrafa de Coca-Cola e o morador vai tomar e aí é suco sabe, da aquela frustração”, conta Paula. As garrafinhas são um fator que as vezes preocupa os voluntários porque eles utilizam por semana aproximadamente 500 delas, e por serem muitas usadas acabam ficando sempre no limite.

“Nosso maior problema aqui é garrafa porque a gente usa muito e nós não temos uma doação fixa. Às vezes vem e as vezes não, a gente sempre pensa que não vai dar, mas graças a Deus aparece de última hora uma doação, mas quando nós não tivemos suficiente a gente teve que dar o suco em copinho, mas da um trabalhão, porque o pessoal que vai para as entregas para o carro e já fica muita gente fazendo filas gigantes para esperar, então você colocar copinho por copinho, dava a maior confusão”, revela.

Paula também lembrou que teve uma época em que eles recebiam muita doação de garrafas de baladas. “O pessoal jogava a garrafa no lixo e o dono da balada dava isso para a gente, mas ele simplesmente tirava o lixo e falava “toma”. Vocês não entendem a situação das garrafas, tinha de tudo, era insalubre, tinha que colocar até luva”, conta Paula.

Além das garrafinhas os voluntários também são preocupação na ONG, isso porque normalmente eles ficam em 6 pessoas para preparar a comida, mas já chegaram a ter 12 pessoas, que já ajuda bastante para não correr nenhum atraso no preparo e na entrega. Durante a preparação da comida é preciso ser rápido para conseguirem preparar todas e saírem para as entregas, “de quinta a gente faz muita, de quinta a gente faz 400 marmitas e de sábado geralmente são 200”, afirma.

Os sábados são geralmente os dias mais corridos porque eles preparam a comida do próprio dia e deixam os legumes preparados para quinta-feira. “Aos sábados nós também deixamos as coisas já preparadas para quinta, porque de quinta, como a entrega é a noite, o pessoal não tem tempo para chegar aqui e ficar fazendo, então de sábados nós já descascamos, cozinhamos e congelamos os legumes”, comenta Paula.

Ela também comentou que além da ajuda feita diretamente por eles, por meio da marmita, o Grupo tem uma parceria com outra ONG de cadeirantes que utilizam os lacres de latinhas para trocar por cadeiras de rodas. “Eles usam esses lacres para trocar por cadeiras de rodas, então a gente sempre junta para ajudar eles”, diz.

Além dessa parceria o Grupo da Sopa também tem vínculo com o restaurante Di Cunto, que cede o espaço ao lado do estabelecimento para a ONG. “Aqui do lado tem a Di Cunto, esse espaço aqui que a gente tá é desse restaurante e eles são muito legais, eles sempre nos fazem doações, nós já recebemos panetone, cookie e outras coisas”, revela.

O grupo sobrevive a partir de doações de dinheiro, alimentos para preparar as marmitas e de rifas. “A gente fez uma rifa, porque esse fogão que nós fazemos a comida está parando de funcionar, então precisamos trocar, mas é mais de 1500 um fogão desse, e aí às vezes um voluntário fala que tem uma TV, ou posso ajudar com um cesto de produtos, aí a gente faz uma rifa e com o dinheiro que nós levantamos a gente troca os equipamentos”, diz Paula.

Ela também relembrou um dos dias mais emocionantes desde que entrou para o grupo e afirmou que são por momentos como esse que todo o esforço vale a pena. “Teve uma cena que foi bem marcando para todo mundo aqui, quando tem páscoa e natal a gente sempre faz algo diferente, na páscoa a gente faz uma sacolinha de chocolate e no natal nós damos panetone. Na páscoa ano passado nós estávamos indo até o ponto de entrega e no caminho a gente encontrou um morador de rua pedindo dinheiro no farol. Aí na hora a gente viu e chamou. Ele atravessou e a gente entregou a marmita com a sacolinha de doce. Depois que pegou a comida ele atravessou a rua e a primeira coisa que ele fez, na calçada mesmo, foi se ajoelhar e rezar, no meio da calçada rezando e chorando emocionado”, revela.

“Na entrega que nós fazemos no Brás, os moradores de rua são fixos lá, então às vezes tem morador que tá dormindo e a gente acorda eles para entregar a comida e eles agradecem e falam que estavam dormindo exatamente para esperar a comida”, comenta.

Para Paula, a sensação de poder ajudar os outros é muito especial e faz ela se sentir bem, ajudando os outros ela se sentiu ajudada. “É especial e depois que você começa a vir, você vê o quanto é impactante, é chato você ficar tirando rótulo de garrafa, às vezes é, mas você nem imagina o quão impactante isso pode ser, você pensa que você pode matar a sede de uma pessoa, mesmo que for uma pessoa só”, afirma.

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