Atitude sublime ajuda crianças na zona norte de São Paulo

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Localizado na rua João de Laet, no bairro Vila Aurora na cidade de São Paulo, o Instituto Sublim surgiu no ano de 2018. Ana Carolina Andrade, 34 anos,  morou a vida toda em um abrigo e nunca foi adotada. Quando Carol cresceu o abrigo a convidou para trabalhar com eles. Ali ela percebeu que quando as crianças eram inseridas na sociedade ou voltavam para sua família não tinham as mesmas condições que tinham no abrigo. Por mais que a vida em orfanatos e abrigos não seja das melhores, as crianças têm comida, chuveiro para tomar banho e cama para dormir. Foi então que ela decidiu criar o Instituto Sublim para apoiar e amparar famílias das comunidades para que pudessem ter uma vida mais digna.

“É muito bonito isso da gente olhar pro próximo. Dificilmente as pessoas se preocupam com o outro. Hoje em dia a gente vive num mundo muito individual”, afirma Fernanda Cristina Silva, 36 anos, do lar. Fernanda tem um irmão, de sete anos, o Lucas, que é um dos primeiros autistas apoiados pelo instituto. A mãe de Lucas sofre de esquizofrenia e não tem condições de cuidar do filho. Por isso Fernanda pegou a guarda e hoje é tutora legal do irmão. Os irmãos chegaram até o instituto através da própria fundadora, que é amiga de Fernanda há vários anos e foi mãe de leite do Lucas em seus primeiros dias de vida.

Se para quem tem convênio médico já é um longo processo até se conseguir o laudo de TEA (Transtorno do Espectro Autista) e o tratamento adequado, para a população que depende do SUS esse processo é ainda mais doloroso e demorado. A ONG ainda não tem um trabalho específico para as crianças atípicas, mas dá todo suporte para a família com acolhimento, cestas básicas, informação e ajuda na luta pelo tratamento. “Pela ONG o Lucas tem a única terapia adequada, porque pelo SUS é muito difícil”, afirma Fernanda. Lucas tem autismo nível de suporte 1, que é considerado um autismo leve mas que necessita de tratamento direcionado. A irmã de Lucas conta que desde que começou na terapia e através do convívio com outras crianças da ONG Lucas se desenvolveu muito. 

Fernanda com seu irmão autista, Lucas

Hoje a ONG possui diversos projetos para atender pessoas de todas as idades, mas desde o início o foco são as crianças. Segundo a Unicef, 56% dos alunos do segundo ano do ensino fundamental no Brasil não sabem ler e escrever e boa parte desse número se deu após a pandemia porque as crianças não foram alfabetizadas corretamente. Toda quarta pela manhã e quinta à tarde as crianças do Instituto se reúnem para o Apoio Pedagógico e os professores contratados passam cerca de duas horas em sala de aula com os alunos tirando dúvidas e auxiliando na alfabetização. 

Famílias recomeçando e ação expandindo

Uma família piauiense veio para São Paulo em busca de uma vida melhor e logo em seus primeiros meses conheceram a ONG que fica na mesma rua em que moram. Bárbara, de 10 anos, é a filha mais velha, chegou à capital com sete anos e encontrou muita dificuldade na escola pois não sabia ler e escrever. No ano de 2023, Bárbara começou o apoio pedagógico no Instituto Sublim e agora, aproximadamente um ano depois, “ela já consegue ler algumas palavrinhas sozinha”, afirma Denise Débora, 34 anos, do lar e mãe da Bárbara. 

Denise conta ainda que “ela era  bastante tímida. Quando  a gente chegou aqui ela tinha muita dificuldade de lidar com outras crianças porque são outros costumes, outra forma de falar mas agora convivendo aqui ela está muito falante”. O instituto fica diariamente com as portas abertas para que as crianças se reúnam mesmo quando não tem uma atividade ou evento específico. Ali as crianças leem livros, pintam desenhos, jogam, conversam e os pais sabem que seus filhos estão num lugar seguro e longe das ruas. 

Crianças têm apoio pedagógico no contraturno escolar

O instituto também tem psicopedagoga e psicóloga especializadas que atendem as crianças, elas buscam entender cada caso de forma particular e encaminham para o tratamento adequado. Cristina Varella, 40 anos, é agente escolar e mãe do Douglas, de 10 anos. Douglas também participa do apoio pedagógico e por meio da ajuda do instituto está sendo investigado de TDAH.

Para além do dia a dia, o Instituto realiza eventos e campanhas ao decorrer do ano para arrecadar fundos e reunir a comunidade local. Na última Páscoa foi organizada uma campanha juntamente com outras três ONGs, que doaram chocolate para 800 famílias da Zona Norte. No instituto as crianças e suas famílias, além dos chocolates, realizaram atividades e ouviram sobre o verdadeiro sentido da data. Um sábado por mês acontece um bazar na sede para arrecadar verba que é revertida para os projetos sociais.

Por meio de parceiros e voluntários, o Instituto Sublim também realiza passeios culturais em teatros, cinema e festas comemorativas para as crianças. No Dia das Crianças “a gente foi num sítio, tinha piscina, tinha pebolim, tinha futebol, a gente passou o dia inteiro lá”, conta Bryan, de 10 anos, apoiado pela ONG. O dono do sítio de eventos, onde as crianças, não só da ONG mas de toda comunidade ao redor, passaram o dia, disponibilizou o local e por meio de doações a alimentação de todos também foi fornecida gratuitamente. 

Com a generosidade de pessoas com melhores condições financeiras e o bom coração dos voluntários, muitos sonhos são realizados. Sonhos que talvez fossem impensáveis para as crianças das comunidades da Zona Norte de São Paulo. “A gente foi no shopping e comeu outback”, conta Heloisa, de 10 anos. Um parceiro da ONG conseguiu levar as crianças para o shopping e eles poderiam pedir o que quisessem do Outback. 

“Se tivesse mais apoio e mais profissionais poderia ter alguma atividade física para as crianças, aula de música, atividades não só para os apoiados, mas para toda a comunidade”, afirma Cristina Varella. A ONG, por se manter por meio de doações e trabalhos voluntários, depende muito de forças externas para crescer e a luta diária de Carol e de toda a organização do Instituto Sublim é para que possam atender cada vez mais famílias com excelência.

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