Gentrificação redefine espaço no Tucuruvi

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“No bairro as casas estão sumindo. Agora é só prédio e condomínio”, afirma Rodrigo De Marchi, 44 anos, que trabalha na Banca Metrô Tucuruvi. Rodrigo é morador do Tucuruvi desde que nasceu e conta que antes só existiam casas e sobrados, mas hoje o que prevalece são os pequenos apartamentos, pois os moradores só vão para casa tomar banho e dormir. O bairro que há anos era periférico e até comparado a cidades do interior por ser tranquilo e distante do centro da capital paulista, hoje já não é mais o mesmo.

O Tucuruvi ainda é um bairro residencial comparado a outros que oferecem mais comércios e áreas de lazer na cidade de São Paulo, mas sua infraestrutura tem aumentado consideravelmente, principalmente após a construção da estação final da Linha 1- Azul, em 1974, que liga a capital de norte a sul.

O fenômeno da gentrificação se dá quando, por iniciativa privada ou do Estado, um local que antes era afastado, perigoso e sem muita estrutura se torna mais valorizado ao receber hotéis, maior diversidade de serviços, shoppings, eventos e grandes franquias. Consequentemente o custo de vida aumenta e o número de habitantes também. A população do Tucuruvi aumentou em aproximadamente 12,41%, que em 2010 eram 88.566 habitantes e atualmente são 99.559, segundo uma pesquisa publicada em 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

De acordo com a Pesquisa Mensal de Valores de Locação Residencial Cidade de São Paulo do Secovi-SP, em 2015 o valor do metro quadrado no bairro Tucuruvi era em média R$ 20,51. Já em dezembro de 2023, uma publicação feita pelo portal Agente Imóvel afirmou que o preço havia subido para R$ 32. Esse aumento nos valores caracteriza o processo de gentrificação que a região tem passado por estar se valorizando ao receber shoppings, comércios e franquias. Somente no Shopping Metrô Tucuruvi, inaugurado em 2013, são mais de 200 lojas como Renner, C&A, Casas Bahia e outras mais luxuosas como Pandora e Vivara.

As vantagens dessa valorização é que a população não precisa se deslocar para tão longe afim de conseguir os serviços desejados, pois a oferta dentro da própria região cresce e o transporte se torna mais fácil. Além das estações Tucuruvi e Parada Inglesa, que juntas movimentam cerca de 50 mil passageiros por hora, há 39 linhas de ônibus que atendem o bairro. Mas esse crescimento rápido e desmedido traz muitos problemas, como o desmatamento e demolição para construção de novos edifícios. Somente no ano de 2017 foram 856 novos edifícios, de acordo com a Veja São Paulo.

Outro problema enfrentado pela população local é que com a chegada de lojas de grife, cafeterias, restaurantes sofisticados e serviços voltados para um público mais abastado, novos habitantes com maior poder aquisitivo são atraídos para o bairro. “Tem um pessoal mais selecionado, mais intelectual, as vezes advogado ou alguém com uma atividade nesse estilo”, afirma Carlos Souza, aposentado, sobre a população que habita o bairro atualmente.

Carlos conta que há alguns anos era possível conhecer a vizinhança, mas atualmente tem tantas pessoas que não existe muito contato. O geógrafo e professor na Fundação Getúlio Vargas, Júlio Ribeiro, 44 anos, também fala que “toda a dinâmica da cidade é impactada por essa verticalização, as pessoas não se conhecem, não tem mais a sensação de comunidade porque a população circula muito”.

A necessidade de um crescimento rápido para abrigar a nova população faz com que não haja tempo para planejamento urbano e assim, tanto o público local quanto os recém-chegados se encontram em um local onde a demanda é maior do que a oferta. De acordo com o geógrafo Júlio Ribeiro, “essa falta de planejamento hoje faz com que as cidades não consigam atender adequadamente todos os seus cidadãos”.

Esse processo de gentrificação acontece muito em cidades e bairros históricos, quando o local é supervalorizado pelo turismo por exemplo “e aquela pessoa que talvez morasse ali já há duas, três gerações não consegue mais morar na região original da família porque se valorizou tanto que ela não tem mais o poder de renda”, afirma Júlio. Com essa mudança no perfil do bairro e o aumento do custo de vida a população menos favorecida se vê obrigada a migrar para cada vez mais longe.

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