O poder do alimento

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Em uma rua calma atrás da estação metroviária Juventus-Mooca, uma entrada, quase imperceptível. Dentro dela, três espaços diferentes.

O primeiro, logo após passar a porta, é quase inteiramente por sacos pretos, repletos de garrafas pet vazias, além de uma mesa branca, comprida, onde são cortadas cenouras e batatas. Depois de subir um degrau, a segunda sala guarda 3 freezers, dois fogões de duas bocas e uma bancada com pia. A sala ao fundo, menor, possui alguns fornos inutilizados, uma pia e duas mesas, uma delas com um par de cadeiras.

Ali se encontra e se organiza o ‘Grupo da Sopa’, do bairro da Mooca.

Ativo desde o início dos anos 90, o grupo se dedica a levar alimento para população em situação de rua. “No começo, distribuíamos sopas, de onde veio o nome. Mas a gente percebeu com o tempo que era muito trabalho, para pouco rendimento. Então começamos a fazer marmitas, com arroz, feijão, polenta carne e legumes. O que foi um sucesso”, conta Alexandre, economista de 57 anos, presente nesse início e hoje principal organizador do grupo.

A ONG opera de quintas-feiras, distribuindo jantas, e de sábados, distribuindo almoços.

Segundo Alexandre, cerca de 300 marmitas são distribuídas toda quinta e 200 cada final de semana, ou seja, pelo menos 500 cada semana.

Para atender essa demanda, os legumes são lavados, descascados, cortados e pré-cozidos no dia de trabalho anterior, os que farão parte da marmita de quinta já são adiantados no sábado e vice-versa.

Todos os voluntários participam de todas as funções, cortando legumes, mexendo a comida na panela, tirando o rótulo e lavando as garrafas plásticas, além de participarem das entregas, feitas de carro pelo Brás, Glicério, entre outras áreas.

O número de voluntários, entretanto, poderia ser maior. Depois da pandemia, o grupo diminuiu drasticamente, sendo aqueles de presença fixa apenas seis. Nas palavras de Alexandre, “A pandemia trouxe uma ideia muito boa, que eu achei sensacional. A ideia é que é necessário ajudar. Daí está acabou a pandemia e está pior do que antes da pandemia. Mas foi despenco o número de voluntários, não só aqui, vários voluntários. E isso deixou a gente preocupado”.

O grupo não possui CNPJ, por ter poucos voluntários fixos e não ter como arcar com os custos que envolvem o processo. Mesmo assim, a ONG tem a grande habilidade de arrecadação. Além de doações de garrafas pet, alimentos e, por vezes, roupas, organizam rifas e sorteios para arrecadar dinheiro. “A gente comprou as duas geladeiras, a geladeira grande, o freezer, é tudo nosso. Então a gente vai trocar o fogão em seguida outro freezer, aí fica completo.”, contou Alexandre.

Junto de cada quentinha, vai uma garrafa, de 250ml, de suco e um docinho. Levam também algumas garrafas de 1,5L de água, não são todos os moradores que pedem por ela, em sua maioria, aqueles acompanhados de cachorros, para poder refrescar o companheiro, compartilhou o organizador.

Alexandre fez questão de ressaltar o comprometimento, a vontade e o respeito de cada voluntário ali. O trabalho da ONG não é uma obrigação, é um prazer, algo que motiva. “A comida, é aquela que a gente daria para nossa própria família. Se não serve para minha filha, minha mulher, para mim, também não serve para eles.”

O ‘Grupo da Sopa’ se reúne hoje em um espaço cedido por um restaurante, que esporadicamente doa alguns dos doces que faz para serem distribuídos. Independente da queda do número de voluntários, segue trabalhando a todo vapor e sempre aberto a qualquer um que queira participar.

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