“Sublim é de sublime, eu queria algo diferente, então é este o significado, agente presta um serviço que todos prestam mas com um QI diferente, nosso foco é atender eles como um todo, não só atender uma ponta, mas sim todos, desde a raiz até o fruto”, conta Ana Carolina de Andrade, 34 anos, gestora de projetos sociais, sobre o significado do nome de sua ONG, o Instituto Sublim, a entidade ajuda mães de periferias da zona Norte a darem melhores oportunidades de aprendizagem a seus filhos, fornecendo apoio pedagógico, cestas básicas, incentivo a leitura para crianças e adolescentes, dentre outros projetos.
“Tudo surgiu quando a minha mãe perdeu a nossa guarda, pra gente ir para um orfanato e aí eu morei durante 11 anos lá, os meus irmãos foram adotados e eu acabei ficando lá até atingir a maioridade. E nisso eu saí, me formei e trabalhei com comércio exterior, depois eu recebi uma proposta para fazer a gestão do abrigo em que eu morei”, relata Andrade, sobre a sua infância crescendo em um abrigo e como isto a fez enxergar as reais dificuldades, que as crianças e adolescentes estavam sofrendo neste processo “Porque lá no abrigo eles tem de tudo, do bom e do melhor, e o que acontece quando eles voltam para as comunidades, a mãe não tem condições de dar esta mesma vida para eles”, complementa Ana.
A entidade tem um espaço confortável e acolhedor, logo na estrada tem um bazar de roupas, sapatos e acessórios, do outro lado temos escrito em letras verdes e brilhantes “Instituto Sublim”, mais a frente uma grande mesa e ao lado um sofá, mais afundo tem uma sala de brinquedos com diversas crianças rindo, brincando e conversando instaurando a alegria no local com suas brincadeiras e artimanhas. E no final temos os escritórios, onde é organizado tudo sobre a funcionalidade da ONG, a tornando mais especial do que ela já é.
Localizada na zona Norte de São Paulo, o Instituto Sublim fundado em 2018 não só ajuda as crianças e adolescentes que voltam a morar nas comunidades, dando apoio pedagógico e doações de cestas básicas, como também oferece suporte principalmente a crianças diagnosticadas com autismo, adultos a saírem do sedentarismo, mães de periferias a se tornarem empreendedoras no mercado, palestras motivacionais, eventos comemorativos e muitas outras ações.
“E assim o instituto Sublim nasceu para fortalecer estas mães, para que estas crianças não voltassem para um abrigo e para também dar um contraturno escolar para as crianças. Porque todo mundo sabe a dificuldade que uma mãe tem, que é quando a mãe está trabalhando, acaba deixando a criança em casa sozinha, porque muitas escolas não são integrais. Então a gente veio para poder suprir essas necessidades como um todo”, diz Andrade.
Tendo atendido até os dias atuais cerca de 9 mil famílias, o Instituto Sublim atualmente atende quatro comunidades ao todo, conseguindo ajudar entre 100 a 120 pessoas em cada uma delas. A partir de ações temporárias dentro destas comunidades ao longo do ano e atendendo semanalmente a Vila Aurora, o instituto apenas no ano de 2023, conseguiu ajudar 1.100 pessoas com suas ações. O custo para manter a ONG é de R$38.100, valor este que é arrecadado por meio apadrinhamento de despesas ou de crianças, doações de comida, materiais de higiene e limpeza, além de doações para o bazar, onde a venda das peças é totalmente revertida para ações da ONG. Ajudando a cada ano mais mães e crianças a terem uma vida melhor.
O instituto Sublim também realiza o projeto chamado As Maras, que foi criado pela Instituição Gerando Falcões, que busca ONGs menores para fazerem parcerias com eles e colocarem o projeto As Maras em prática. O intuito deste projeto é de fornecer uma renda complementar às mães de periferias. “No projeto, elas distribuem peças tanto de roupas quanto de alguns eletroeletrônicos, para que essas mulheres façam a venda, 30% dessa venda é revertido para elas. E aí, a partir disso, elas conseguem ter uma renda complementar à renda delas, que geralmente não é suficiente”, explica Mariana Carolina Tardin, 30 anos, secretária da ONG.
Este projeto tem como principal objetivo ajudar a gerar um lucro e uma independência financeira a estas mães sem rendas fixas. “É uma vulnerabilidade muito grande, porque a partir do momento que você é mãe, você tem uma dificuldade de trabalhar, você tem toda uma responsabilidade maior e a vida é muito difícil, porque você tem que cuidar do seu filho, você tem que manter a casa, então é tudo muito difícil. É isso que a gente quer melhorar, é a qualidade de vida dessas mães”, complementa a secretária.
Atualmente são muitos os adolescentes da cidade de São Paulo que carecem de alfabetização básica e acabam se tornando adultos com dificuldades em aprendizados básicos, como ler e escrever. “Tem a Letícia, né, que tem 19 anos, ela não sabia ler nem escrever. E aí a gente abriu as inscrições para quem do bairro quisesse fazer o curso. Era um curso de capacitação para os jovens poderem sair daqui e trabalhar. E era de informática, um curso de informática básica. Só que ela não sabia nem escrever, com essa idade”, conta Marcella Claudia Tardin de Mello, 34 anos, também fundadora da ONG, sobre a parceria do instituto Sublim com a Gerando Falcões. O projeto fornece um curso de informática, para adolescentes que gostariam de começar a atuar nesta área do mercado.
“A gente criou um meio pra ela poder estar junto com esses jovens, porque também é uma jovem que queria participar. Ela conseguiu fazer o curso, conseguiu o diploma, foi uma das que fez até o final”, relata Marcella, sobre a jovem Leticia ter conseguido se alfabetizar e terminar o curso profissionalizante.
São muitos os casos que passaram e passam pelo o Instituto Sublim, que acabam tendo suas histórias marcadas nas lembranças da instituição. Um deles sendo o caso de uma jovem que obteve ajuda da ONG para conseguir viver uma vida melhor. “A gente atendeu uma jovem em uma comunidade de refugiados que fica localizada na Sezefredo, próximo ao Rodoanel. Essa menina tinha muitas feridas na boca”, conta Marinna. A secretária relatou que forneceram a jovem diversos medicamentos para tentar resolver sua dor, porém nada a ajudava de forma definitiva, até ela conseguir a ajuda por meio da ONG de um bucomaxilo “E aí nós descobrimos que a saliva dela era extremamente ácida e feria os lábios dela. Feria os lábios, a bochecha, a parte interna dela. E aí, a partir disso, ela começou a tomar o medicamento e agora ela tem uma vida normal. Mas me impactou muito porque prejudicava ela em tudo. Ela não conseguia se alimentar, ela não conseguia falar, era bem difícil”, complementa Carolina.
A Rotina Ativa, é outro grande projeto que a Sublim oferece, sendo este voltado para adultos de todas as idades. Neste trabalho a ONG os incentiva a saírem do sedentarismo e começaram uma vida mais esportiva, atualmente eles contam com uma turma de 20 mulheres, em sua maioria idosas, que se divertem muito nas aulas e ficam distantes de doenças crônicas e do sedentarismo.
“Primeiro eu saí do sedentarismo, né? Como eu faço crochê, eu trabalho com isso. Faço vestuário, e aí eu trabalho muito sentada. Então a minha vida é muito sedentária, né? De vez em quando correndo atrás dos netos, porque eu acabo ficando com eles, mas assim, foi uma chavinha que virou mesmo. Então, eu vi que tem uma Cristina antes da ONG e depois”, relata Cristina dos Santos, 62 anos, artesã e participante do projeto.
Cristina ainda conta que adora as aulas e que realmente elas mudaram a sua saúde “A gente vem assim bem empolgada mesmo. Na verdade, às vezes eu nem quero vir, porque eu acordo com uma preguiça, eu tô cansada, mas aí eu falo, não, eu vou melhorar, né? Meu dia vai ser melhor e realmente é mesmo. Então, assim, são aulas muito dinâmicas, né? E todo mundo muito envolvido. Então, é muito divertido mesmo”.