Santa Cecília entre tradição e modernidade

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Santa Cecília entre tradição e modernidade

Moradores e comerciantes explicam suas preocupações em relação à modernização e segurança.

Por Vitor Kenzo.

Os novos comércios da região trazem mais pessoas para a ruas (foto Por: Vitor Nishiuchi).                    

A Santa Cecília vem passando por uma transformação social e econômica nos últimos anos. Moradores e empreendedores da região afirmam que o bairro teve uma explosão comercial e explicam como isso afeta o convívio diário e a relação que eles possuem com o bairro.

A costureira e consultora da área da saúde Maria Jocélia Ribeiro, 56 anos, é residente do bairro há 22 anos e, ao ser questionada sobre como os novos tipos de empreendimentos podem ajudar no local, destacou o convívio social e a tranquilidade em sair na rua. “Antigamente aqui não era um lugar saudável. Agora o bairro é mais alegre, vemos pessoas diferentes, animadas, aqui no nosso bairro também tudo o que você precisa, um barzinho, teatro. É bom que os jovens possam conviver à noite e também fica gente na rua, o que evita muito assalto. Não digo que aqui está mais seguro, mas você não tem mais tanto medo de andar na rua”.

O Minhocão é uma área de lazer para os moradores da região (Foto por: Vitor Nishiuchi).

Mario Neves, 28 anos, é um dos sócios da cafeteria Naïf Café e mostra como é a região do ponto de vista do empreendedor e comenta sobre como são as pessoas do bairro. “Acho que a galera daqui é bem bairrista, ou seja, as pessoas gostam de frequentar o próprio bairro. É uma clientela bem fiel, com um poder de compra bom e uma faixa etária bem diversa”.

No entanto, ele também avisa que o custo do aluguel para manter o estabelecimento não é barato. “O aluguel deu uma aumentada, se você não tomar as rédeas e negociar com o proprietário eles aumentam o valor”.

Um estudo da Loft, empresa de compra e venda de imóveis, indica que o bairro da Santa Cecília foi o mais valorizado desde janeiro com o crescimento de 38,68% nos preços em abril, de acordo com o Índice Preço Real EXAME-Loft (IPR). Essa valorização do preço impacta diretamente na vida daqueles que convivem no bairro, principalmente moradores mais antigos que vieram para a região antes de sua modernização.“Por nós morarmos no centro, sempre é mais caro. Eu acho muito caro e algo que não te dá retorno. Quando vira o ano, o aluguel aumenta”, completa Maria.

O dono da Livraria Ponta de Lança, Bruno Eliezer Melo Martins, 34 anos, desabafa sobre esse tema: “(o aluguel) aumentou muito, estamos no limite. Já avisei ao proprietário que a gente quer ter uma longa permanência aqui, mas se continuar assim teremos que fechar. Todo ano tem aumento, nos últimos 3 anos teve um aumento de 40%”.

Outra questão debatida pela comunidade local é como a chegada de novos negócios e inquilinos impactam na mudança de perfil da Santa Cecília. “Esses empreendimentos que não tem relação nenhuma com o bairro pioram muito a relação que tenho com meu público porque essas empresas trazem pessoas que não estão afim de morar aqui, elas visam comprar um imóvel como forma de investimento. Isso tudo destoa da personalidade do bairro, eles destroem casas e prédios antigos para construir novos que não tem relação, são horríveis e caríssimos fazendo com que o preço de tudo aumente”, reclama Bruno.

Moradores reclamam da inflação no preço do aluguel na (Foto por: Vitor Nishiuchi).

O casal Fabrizzia Christiane dos Santos, 40, coordenadora pedagógica e Wagner Jorge Rodrigues de Araujo, 43, professor, destacam a acessibilidade e o ideal dos moradores “É uma região de fácil acesso ao transporte público e a serviços de saúde e cultura”, explica Fabrizzia. “Ainda tem a questão política, acredito que a população nesse lugar seja mais progressista”, inteirou Wagner. Eles também explicam o porquê do bairro está perdendo sua essência. “Esses novos estabelecimentos com grande produção econômica, como o Oxxo, acabam expulsando os pequenos comerciantes e moradores, resultando em uma padronização de atendimento”, diz Fabrizzia. “O imobiliário que está investindo aqui acaba expulsando comércios tradicionais e também populações mais antigas do bairro, existe também a monopolização de um tipo de comércio onde eles só mudam a fachada, entretanto o grupo que a detém é o mesmo. Esse esquema acaba afastando gente que costumava frequentar certos locais aqui”, finaliza Wagner.

Em relação a segurança, é importante lembrar que o atual prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes, tinha como proposta do seu mandato a revitalização do centro da capital paulista. Em agosto ele disse, durante sua participação no debate da emissora bandeirantes, que adicionou aproximadamente dois mil guardas civis nas ruas e melhorou a iluminação. O policial municipal da GCM (Guarda Civil Metropolitana) Roni Silva Mattos, 57 anos, afirma que a prefeitura aumentou o policiamento no centro de São Paulo. “A Guarda Civil, junto com a Polícia militar, estão mais participativas, principalmente na região do Elevado Presidente João Goulart, mas também na região toda. Tanto o governo municipal quanto o estadual estão participando dessa ação na região central como um todo. As frotas também foram reforçadas”.

 

 

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