Lutando contra o fechamento

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Bairro nobre de São Paulo. Assim, é conhecida Moema. Um lugar onde é raro ver moradores de rua. Um bairro tomado por prédios e comércios. Um lugar tranquilo de morar, talvez. Mas a associação mais comum é a de que os moradores de Moema têm uma boa condição financeira.

Em meio ao caos da modernização, está o Ciccio Cabeleireiro que, de acordo com a placa pendurada na porta de entrada, está vivo desde 1940.

No número 840, na Rua Gaivota se encontra a casa da cor bege. O tapete florido, colocado na entrada e escrito “Bem Vindo”, convida o cliente a entrar. Dentro do local simples, mas muito bem cuidado, encontro um senhor de idade. Artur Afram de Oliveira, um caboclo brasileiro, em seus 77 anos. Homem baixo de estatura e cheio de energia.

“Não sou educado, não. Sou mais ou menos, mas eu respondo”, afirmou o maranhense, antes de contar todo o ‘romance’ do lugar em que trabalha há 40 anos e que traz consigo uma parte da história da Segunda Guerra.

A jornada começa com o pai de Francisco Ciccio, italiano e palmeirense de berço. O homem ganhava a vida cortando o cabelo dos militares perto de seu vilarejo, no sul da Itália.

Seu filho veio do país para o Brasil, onde aprendeu a profissão que o pai levava e, assim, abriu um salão na Avenida Macuco. Chamou de Ciccio Cabeleireiro, onde trabalhou até o fim da sua vida.

Seu Francisco faleceu em 2003, deixando seu legado para seus filhos. Maurizzio e Marco não eram da profissão e, por isso, acabaram não ficando à frente do negócio.

Artur acabou comprando um ponto comercial e, em 2013, mudou o estabelecimento para a Rua Gaivota, tomando o espaço de uma lavanderia; consequência da gentrificação, que transformou o antigo lugar em prédio.

Vinte anos trabalhando juntos fizeram com que Artur homenageasse Francisco em sua nova localização. Os quadros e mapas pendurados nas paredes foram trazidos da Itália e as fotos dos primeiros donos estão estampadas para o público.

A decoração é repleta de pinturas. Acima do cabideiro, uma foto da Marilyn Monroe. A televisão com o volume alto dificulta a conversa.

Artur reclama dos jogadores de futebol atuais e fala do seu ídolo Pelé. O santista, casado há mais de 50 anos, veio do Maranhão com 18 anos. “Eu não tinha medo de nada”, relata sobre ter ido morar em pensão. “Morei na Conselheiro Brotero, na Rua Tupi, na Rua da Glória… mas vim trabalhar para Moema e acabei morando por aqui”.

Conheceu sua mulher enquanto trabalhava em um salão da Vila Nova Conceição. Seu chefe da época, Seu Toninho, também era italiano. Em seis meses, a pediu em casamento.

Artur teve duas filhas, uma que faleceu há menos de um ano, com 45 anos.

A concorrência das novas barbearias gera uma dificuldade para manter o negócio em pé. Artur conta como as empresas não querem comprar, já que o estabelecimento não tem fundo para fazer prédios. Inclusive, conta como a pizzaria do lado fechou, por conta da pequena frequesia.

O senhor trabalha sozinho, atendendo os mesmos clientes há quase 50 anos. “A clientela é fiel entre aspas. As pessoas vão muito da conveniência, né? O preço tem muito impacto. Aqui cobro 50 reais para aparar o bigode e 80 reais no corte”.

Quando perguntado das cadeiras de couro do local, Artur pergunta se as queremos comprar. Relata que a pandemia tornou tudo mais difícil. Três meses fechado.

O senhor trabalha sozinho, atendendo os mesmos clientes há quase 50 anos. “A clientela é fiel entre aspas. As pessoas vão muito da conveniência, né? O preço tem muito impacto. Aqui cobro 50 reais para aparar o bigode e 80 reais no corte”.

Quando perguntado das cadeiras de couro do local, Artur pergunta se as queremos comprar. Relata que a pandemia tornou tudo mais difícil. Três meses fechado.

“Quero me aposentar, mas não pelo governo. A ideia é me aposentar do negócio e fazer outra coisa, porque não tem necessidade de ficar com a barbearia. Eu já tive ajudante, mas, ultimamente, até eu estou sobrando”.

A Ciccio Cabeleireiro luta todos os dias contra o fechamento definitivo. Mostrando que a dificuldade existe em todos os lugares, até em Moema. O lugar aconchegante procura uma salvação. Apesar disso, o senhor continua a ir, das 10h às 16h, para o salão que traz a Itália em sua história.

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