Ciclovias levam lazer e garantem mobilidade ao Butantã

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Por João Vitor Toledo e Luigi Sciarretta

Em 2023, a cidade de São Paulo passa pela revisão do plano diretor para a capital do estado. O plano é, segundo a Constituição Federal, é um mecanismo básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana e aperfeiçoamento dele, de tempos em tempos, é fundamental para a construção de uma cidade melhor para todas as pessoas.

O documento também é responsável pela entrega de novos projetos que visam garantir mobilidade urbana, segurança e demais fatores do crescimento urbano e que atendam ao ‘direito à Cidade’.

O que já é de conhecimento público são os incentivos feitos para a redução da dependência dos automóveis, em especial os particulares, aumentando a adoção de métodos de transportes mais sustentáveis e coletivos. Percebe-se por esta primeira proposta, a priorização dos transportes públicos como principal foco do plano diretor, visando o crescimento da oferta e a qualidade nos serviços de ônibus, trens e metrô, tendo como meta incentivar o uso dos coletivos em relação aos carros.

Para aumentar o número de passageiros nos transportes públicos, é preciso oferecer boa qualidade e segurança. Além disso, o plano diretor de São Paulo também conta com um parágrafo de mobilidade urbana reservada ao uso das ciclovias. A criação e expansão de uma rede cicloviária integrada com ciclovias, ciclofaixas e ‘ciclorrotas’ deve garantir a segurança e a conectividade dos ciclistas.

Hoje, os projetos de ciclovias não estão só em bairros nobres da cidade, como nas áreas do Ibirapuera, Pinheiros e Faria Lima. A implantação de ciclovias nas periferias da cidade também está em pauta, inspirada no sucesso das ciclovias construídas no centro expandido, regiões menos badaladas e abastadas. Bons exemplos são a ciclovia da Vila Mariana, que passa pelos arredores da comunidade de Heliópolis e a mais conhecida delas, a ciclovia da avenida Inajar de Souza, na zona norte de SP, que liga várias comunidades aos grandes bairros da região e contribui para que os moradores tenham acesso a outras partes do sistema cicloviário paulistano.

O projeto de expansão das ciclovias e o “Bike Itaú”

Fomos conhecer de perto o projeto para a construção de ciclovias na região do Rio Pequeno, que vai ligar as ciclovias já existentes no Butantã com a comunidade local, a Favela São Remo.

Para promover o uso das bicicletas como meio de transporte e não só como lazer, a prefeitura, além dos projetos contidos nos planos diretores das gestões passadas, tem uma parceria com o Itaú, o antigo projeto ‘Bike Sampa’ rebatizado de ‘Bike Itaú’, em 2016.

O programa foi lançado em 2012 e era gerenciado pela Prefeitura de São Paulo em parceria com o Banco Itaú e uma segunda empresa, especializada em sistemas de bicicletas compartilhadas, a Tembici.

Espalhadas por toda a cidade, as bicicletas públicas têm como objetivo oferecer aos cidadãos uma opção prática, sustentável e acessível para os deslocamentos urbanos. Desde 2012, o programa é visto como uma forma de melhorar a mobilidade, reduzir o tráfego de veículos e a emissão de poluentes, além de promover um estilo de vida mais saudável. As estações também estão estrategicamente localizadas em locais de grande movimentação, como estações de metrô, terminais de ônibus, parques e centros comerciais.

Para utilizá-las, os usuários podem fazer um cadastro no site do projeto, no aplicativo móvel ou nas próprias estações. Ao chegar no local, o usuário desbloqueia a bicicleta usando um código gerado pelo sistema, permitindo o uso por um determinado período de tempo.

O caso do Distrito do Butantã

O distrito do Butantã conta com 13 estações do programa ‘Bike Itaú’, sendo a maioria concentradas nas vias próximas à Cidade Universitária e algumas localizadas nos arredores de estações de trem, metrô e pontos de ônibus.

O desafio para o sucesso total do projeto, é a falta de manutenção adequada das bicicletas e das estações. Muitas vezes, as bicicletas estão em condições precárias, com pneus murchos, freios desregulados e problemas mecânicos. Algumas estações também podem estar danificadas, com problemas no sistema de travamento das bicicletas.

Outro dos principais problemas é a falta de estações e bicicletas disponíveis. É comum que as estações do Bike Itaú no Butantã estejam com poucas bicicletas disponíveis, especialmente nos horários de pico, o que limita a disponibilidade e dificulta o acesso dos usuários às bicicletas. Algumas áreas do bairro podem ter uma cobertura insuficiente de estações, tornando difícil encontrar uma estação próxima.

Mesmo com toda a dificuldade para o êxito máximo do programa, de modo geral, o projeto é considerado um grande triunfo para a mobilidade urbana da Grande São Paulo, um sucesso em finais de semana e também em dias úteis, ajudando muitos como uma forma alternativa de evitar trânsito ou até mesmo de ficar em forma.

Um pouco de história

O distrito do Butantã, localizado na zona Oeste de São Paulo, é uma das regiões mais antigas da cidade. No começo do século XX, o local era repleto de fazendas e sítios, sendo os mais conhecidos o sítio Butantã e o Rio Pequeno, que curiosamente se tornou o nome de um dos bairros do distrito.

Com o tempo, o local que era pacato começou a vivenciar um processo de desenvolvimento que se deve às instalações do famoso Instituto Butantan e da cidade universitária, ambos fatores foram cruciais para a região, sendo grandes atrativos não só para o bairro, como para toda a cidade. O que resultou em um grande crescimento populacional da área, totalizando mais de 400 mil pessoas vivendo nas imediações atualmente.

Muitos desses habitantes trabalham nas áreas centrais da cidade e em vários dias da semana tem de ir e voltar do local de seu emprego, gerando um grande fluxo de deslocamento entre o bairro e as demais regiões, que sempre estão movimentadas, seja pelos estudantes da USP ou pelo restante dos trabalhadores e moradores do distrito.

O Butantã é conhecido por ter muitos ‘condomínios clubes’, que possuem diversos meios para o lazer e diversão, entre quadras poliesportivas, quadras de tênis, piscinas e etc. É um privilégio para os mais abastados, o que causa uma disparidade com a outra face do distrito, constituída por comunidades sem acesso a lazer para descansar das preocupações do dia a dia.

A alternativa de muitos acaba sendo atravessar a ponte do Jaguaré e utilizar os benefícios do Parque Villa Lobos.  Um pouco mais acessível para quem está de carro ou bicicleta.

Procurando uma forma de se manter bem fisicamente e conciliar a rotina de estudos e trabalho, Diego Góes, 20, morador do Rio Pequeno e estudante de sistemas de informação, achou no ciclismo, uma maneira de driblar o caos da cidade.

“Sempre fui ao parque Villa-Lobos para fazer esportes, que não é tão fácil assim de chegar, mas eu gostava. Quando a pandemia começou eu parei com os esportes, mas queria continuar ativo, foi aí que conheci o ciclismo e comecei a andar pela cidade, eu ando muito na ciclovia da marginal e nas ruas aqui por perto, mesmo não tendo tanta segurança”, disse Diego.

Ele vê com bons olhos o aumento da malha de ciclovias na cidade e, em especial, aquelas próximas de sua residência. “Dividir espaço com os carros é difícil e perigoso também, então estou bem animado para a finalização das obras, acho que elas podem ser ótimas para muitas pessoas irem ao trabalho e para famílias também.”

Ampliando as ciclovias no Distrito do Butantã

A prefeitura, ciente desse déficit, e buscando atender pedidos antigos da população local, está realizando diversas obras para melhorias do bairro, sendo uma delas, a construção de ciclovias pelo distrito. Edward Malzoni, engenheiro e gerente de obras da SP9 incorporação e Construção S.A., uma prestadora de serviços da prefeitura que está fazendo ciclovias para a melhoria do distrito.

“Estão previstos em projetos do governo, a implantação de unidades de habitacionais que irão impactar nos serviços e equipamentos púbicos da região do Butantã, sendo certo o aumento populacional, a área carecerá de ampliação e maior oferta na mobilidade urbana.”, conta Edward. Cabe ao poder público então, a tarefa de levar estes novos moradores aos meios de transportes públicos ou às redes cicloviárias mais próximas. “Sabendo disso, a SP9 (empresa responsável pelas obras) implantará 8,5 km de ciclovias na região da subprefeitura do Butantã, além de reformar uma UPA e construir uma UBS.”, detalha Edward.  “Atualmente estamos finalizando os projetos das estruturas cicloviárias”, conta o engenheiro. O início da execução das obras está previsto para o mês de Junho. As obras devem começar pelas avenidas Vital Brasil e Corifeu de Azevedo Marques.

Desde 2010, o distrito vem recebendo diversas obras de melhorias e criação de ciclovias e ciclofaixas, em especiais os bairros do Rio Pequeno e Cidade Universitária. O último projeto de expansão cicloviária entregue no distrito ainda é recente, ocorreu há pouco mais de um ano, em dezembro de 2021 para a comemoração aos 122 anos do bairro. Na época, a inauguração contou com a presença do então prefeito Ricardo Nunes (MDB), que vistoriou a nova obra e discursou para populares e cicloativistas.

“São Paulo tem quase 90 quilômetros de ciclofaixas, 695 quilômetros de ciclovias e vamos fazer mais 300 quilômetros, fazendo com que a cidade avance bastante com essa questão para incentivar a bicicleta, conversar com as pessoas que entendem do assunto para podermos aprender, corrigir erros e avançar cada vez mais nessa questão.”, disse Nunes na ocasião.

No entanto, o aumento da malha foi pouco aclamado pelo público, por conta de uma redução ao mesmo tempo da extensão de outras ciclovias da cidade, como as das avenidas Roberto Marinho e Luís Carlos Berrini, que sofreram uma diminuição de pouco mais de 13 km.

Ou seja, este é um grande impasse a ser resolvido pela prefeitura de São Paulo, tendo em vista que muitas ciclofaixas de lazer só funcionam nos domingos e feriados nacionais. Estão em pauta ainda projetos que planejam conciliar carros e bicicletas de maneira segura a todos.

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