Na última década, o distrito do Itaim Bibi se tornou alvo das imobiliárias, gerando um crescimento do número de prédios em construção, especialmente em locais próximos aos grandes centros comerciais, como é o caso do bairro Brooklin Paulista, ao lado da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, centro de multinacionais e big techs. Entretanto, essa explosão imobiliária traz consequências para a vida dos antigos comerciantes locais.
Com a inauguração das linhas do metrô, 5 – Lilás e 4 – Amarela, ocorreu uma valorização das áreas próximas a elas, como o distrito do Itaim Bibi. Locais antes marcados pelos comércios, agora são procurados pelas construtoras, que veem nesses locais valorizados um bom negócio imobiliário. Exemplo dessa valorização trazida pela proximidade do transporte público, é a criação da estação João Dias, da Linha 9 – Esmeralda, construída em 2021 por meio de uma doação do grupo imobiliário Brookfield. O grupo buscava valorizar seu novo conjunto corporativo, pelo acesso deste à nova estação da CPTM. Outro fator é o Plano Diretor, que beneficia a construção de novos prédios, especialmente os de luxo, nas áreas demarcadas por ele.
O aumento desses prédios de luxo e dos imóveis compactos, os studios, contribuem para a gentrificação, fenômeno urbano no qual melhorias econômicas, sociais e culturais, ocorrem em determinado centro mais antigo ou vulnerabilizado, o que eleva seu status, encarecendo a vida e o comércio neste bairro ou distrito.
Os comerciantes veem as mudanças geradas pela gentrificação de diferentes perspectivas. Segundo o comerciante João de Paula Filho, 55 anos, dono da Ótica e Relojoaria, funcionando há 28 anos no Brooklin Paulista, existem no bairro muitos prédios e os comércios estão acabando. Quando perguntado quanto às consequências disso, João afirmou “vai diminuir bastante, quem não conseguir ficar vai para shopping ou para as periferias”. Esse deslocamento, gerado pela falta de rendimento para se manter no bairro, é característico da gentrificação.
Já para a Luciana de Freitas, 51 anos, dona da loja de roupas Brooklin Store, aberta há 48 anos, ocorreu uma melhora nas vendas com os novos moradores, que se interessaram pela loja após a pandemia. “Os shoppings foram quase os últimos a abrirem. Então os novos moradores conheceram os comércios de rua do bairro”. Mesmo não considerando isso como um impedimento do seu trabalho, a comerciante relatou o aumento do preço no metro quadrado após as construções iniciarem. “A pessoa só se mantém se tiver um giro muito elevado. Se não, ela precisa encarecer a mercadoria”.
Outra visão positiva quanto às mudanças é de Líbia de Souza Godinho, 65 anos, dona da perfumaria Caxopa, há 40 anos operando no bairro. A vendedora afirma que os novos moradores se interessam pela sua loja e acha maravilhosa a chegada de novas construtoras, pois, para ela, isso indica uma nova clientela. Os preços variam conforme a economia, mas segundo Líbia, os valores que cobra não mudam tanto, mesmo com o encarecimento do bairro.
Por outro lado, essa demanda imobiliária não está acompanhando a procura por imóveis compactos ou de luxo, o que pode levar a uma bolha imobiliária. Segundo matéria do Estadão, não havia uma superoferta de compactos em 2022, pois muitos ainda não estavam prontos e entregues à venda, mas num período de dois anos, 2023 e 2024, há chances dessa bolha estourar.
Esse aumento de compactos revela uma especulação imobiliária, esta ocorre quando investidores compram propriedades para gerar lucro com a sua valorização, ao invés de utilizar estas para fins residenciais ou comerciais. No caso da Zona Sul da capital paulista, o aumento de compactos é inegável e pode ser observada pela quantidade de lançamentos novos a cada esquina, como afirma Juan Carlos Almeida, 19 anos, consultor de negócios imobiliários. A bolha imobiliária ocorre quando os preços sobem, devido a demanda gerada pela especulação, sem uma justificativa mercadológica. Ela estoura e os preços caem drasticamente. Juan acredita que isso pode vir a acontecer se o cenário continuar o mesmo.