População do Jardim Ângela tem acesso à cultura dificultado

Região central da cidade concentra a maioria dos espaços culturais, moradores das periferias precisam se deslocar por horas para acessar lazer

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Rua da Consolação, sentido centro

O baixo número de espaços culturais no distrito do Jardim Ângela é um dos fatores que fazem com que a população da região tenha que se submeter a trajetos de até duas horas até o centro da cidade de São Paulo para exercer seu direito de acesso à cultura. Alguns dos fatores que reforçam este contexto são a falta de investimento, a elitização dos espaços e a propagação da falsa ideia de que moradores de periferia não se interessam pela arte.

 

A Constituição Brasileira de 1988, em seu Artigo 215, e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu Artigo 27, estabelecem como dever do Estado garantir o acesso da população às mais diversas fontes culturais. Mas não é bem assim que as coisas funcionam. Para Matheus Monteiro, de 20 anos e assistente administrativo, moradores do distrito do Jardim Ângela têm o exercício de seu direito dificultado por conta do baixo número de espaços culturais na região. “Por sorte, minha família sempre me incentivou a realizar atividades como dança, música e teatro”, comenta. O jovem ressalta que se não fosse o incentivo dos pais desde a infância, não seria, hoje, a pessoa que é.

 

O Jardim Ângela é um distrito localizado na região do extremo sul da cidade de São Paulo. Pelos seus arredores, existem alguns aparelhos culturais, como a Casa de Cultura Municipal M’Boi Mirim e a Fábrica de Cultura Jardim São Luís, além dos CEUS Guarapiranga e Campo Limpo, escolas de ensino fundamental populares pelo incentivo a atividades culturais e esportivas. Dentro do distrito, Mirela Lopes, 21 anos e operadora de atendimento, destaca o Clube da Turma, onde fez teatro, circo e balé durante a maior parte de sua infância e adolescência. O espaço é centro de convivência intergeracional idealizado para democratizar a vivência cultural para pessoas em situação de vulnerabilidade social. “Acho que por mais que a gente tenha locais aqui pela região, eles não são suficientes para comportar toda a população”, comenta sobre o distrito que comporta cerca de 300 mil habitantes, segundo a prefeitura de São Paulo em seu último levantamento, realizado em 2016.

 

Para Matheus, a cultura ainda é elitizada e a distância de uma hora e meia a duas horas para chegar ao centro da cidade de São Paulo, onde está a maior quantidade de aparelhos culturais, comprova este ponto. Somente na Avenida Paulista é possível encontrar cinemas, museus, teatros, centros de exposições e casas de shows, além de eventos esporádicos gratuitos realizados aos domingos, quando ela fica aberta para circulação do público e fechada para os carros. Mirela acredita que a concentração de eventos culturais no centro ocorre porque “é onde o dinheiro circula”. Ela também critica o custo das atividades: “Por mais que seja importante vivenciar a cultura, o valor cobrado é algo que faz a gente pensar se é uma coisa que a gente realmente precisa”.

 

“Não acredito que eu seria a pessoa que sou hoje se não fosse pelo teatro que fiz, porque a cultura tem uma força muito grande de mudar a vida das pessoas”, continua Mirela, destacando a importância do estímulo à cultura. Para ela, cultura é “tudo que um grupo consegue criar para se conectar às pessoas”. Ela lembra que a maior parte da cultura brasileira vem das periferias e que ela só não ocorre com a mesma frequência que a cultura erudita e popular por conta de um contexto estrutural de desvalorização, que desmente a ideia de que moradores de bairros periféricos não estão interessados em cultura. Por esta razão, Matheus defende a ideia da expansão dos espaços culturais para além do centro, a fim de comportar melhor a população periférica paulistana, como ocorre com o Clube da Turma.

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