A Casa de Óperas de São Paulo em seus 111 anos

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Diogo Loturco

No ano de 2023, o Theatro Municipal de São Paulo completa 111 anos desde sua fundação, e carrega consigo um valor desconhecido por muitos, que mudou o cenário de São Paulo. Para relembrar a história desse patrimônio, foi necessário o conhecimento de um educador do próprio Theatro Municipal, o qual o nome é Igor Antunes, 22 anos.

Theatro Municipal de São Paulo – Foto: Diogo Loturco

O Theatro Municipal embalava os sonhos de uma cidade que crescia com a indústria e o café, que se espelhava nos grandes centros culturais do mundo naquele início de século. A arquitetura do prédio foi inspirada na casa de óperas da França, com características tanto barroco quanto neoclássica. A estrutura tem cinco andares, algo totalmente diferente para a época, a qual a concepção de prédios, em que edifícios de dois andares já eram classificados como muito altos. O educador afirma, “a construção surgiu em um modelo europeu, inspirado no Garnier Opera, teatro de Paris, na intenção de agradar estrangeiros e imigrantes.” Ele ainda complementa “Isso fez com que a cidade se espelhasse na arquitetura da casa de óperas de SP e avançasse na evolução do centro da cidade ao seu redor”.

O salão nobre é um espaço de socialização onde ocorriam bailes e jantares dedicado à elite. Nesse cômodo existe três pinturas exibidas no teto que indicam a música, o teatro e a dança. O prédio foi construído em oito anos por operários brancos e negros, entretanto quando se entra no salão, você também consegue observar nesses retratos que só havia homens brancos, ao ser questionado o educador explica, “o objetivo da elite social era ausentar a população negra na época e atrair europeus”. Dois anos após a abolição da escravidão no Brasil, foi incentivado a imigração de estrangeiros, exceto países do continente africano, com o propósito de trazer mais pessoas brancas, já que o racismo cientifico imperava o país.

Salão Nobre – Foto: Diogo Loturco

O fato mais marcante que alavancou o valor do Theatro Municipal de São Paulo foi a Semana de Arte Moderna, que aconteceu entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, o que levou ao local exibições de música, poesia e artes visuais do modernismo. Importantes artistas da época subiram ao palco nesses dias como Mário de Andrade, Anita Malfatti, Di Cavalcanti e Heitor Villa-Lobos.

A casa de óperas sempre teve como o público-alvo a grande elite da sociedade e os barões do café. Existem camarotes que até hoje são dedicados ao prefeito e pessoas com cargos altos na sociedade e esses espaços ainda precisam da permissão dessas pessoas para serem liberados para outros indivíduos de acordo com o educador, tendo a presença de placas acima da porta, indicando a quem pertence o camarote.

Educador Igor Antunes – Foto: Diogo Loturco

O exterior da cidade se funde com o interior do theatro, tanto na cultura quanto arquitetura. Hoje o prédio histórico ainda traz grandes espetáculos, muitas vezes gerando debates acerca de críticas à sociedade e participando sempre na educação do país, trazendo a cultura de todos os lugares para a cidade. Um fato para ser usado de exemplo, foi quando a prefeitura trouxe temas como a cultura da periferia no dia da mulher negra em 2022. O berço do hip hop acontece no centro da cidade de São Paulo, onde “o Emicida fez um show e convidou os fundadores do movimento negro unificado para a plateia, integrando ainda mais inclusão social” diz Igor Antunes.

O movimento citado pelo educador, em tempos da ditadura militar foi a responsável por um ato histórico com mais de duas mil pessoas nas escadarias do Theatro Municipal de São Paulo em 1978, de acordo com a CUT (Central Única dos Trabalhadores) com a fidelidade de lutar contra a violência policial no Brasil.

Ao ser questionado sobre o número de visitantes ao Theatro, o educador afirma “quatro de dezessete pessoas frequentam esse espaço histórico”, dado que mostra que apenas 23,5% da população ingressa o edifício para visitação.

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