Escola em que tudo aconteceu.
Foto: Estevão Fernandes
Aluno de 13 anos invade a escola com uma faca e deixa 5 pessoas feridas
Era para ser mais uma segunda-feira normal na Escola Estadual Thomazia Montoro, mas em poucos minutos após a abertura dos portões, ocorreu uma reviravolta que assustou o Brasil. Na reportagem de hoje, vamos contar sobre uma das sobreviventes, Rita de Cássia Reis.
Rita, de 67 anos, é professora de História e está há quase quatro anos ministrando aulas na Escola Estadual Thomazia Montoro, localizada no bairro da Vila Sônia, Zona Oeste da capital paulista.
Era dia 27 de março de 2023, por volta das sete horas da manhã, e a professora estava realizando a chamada de presença quando escutou gritos no corredor. “Escutei uma gritaria e, fui abrir a porta da sala, achando que pudesse ser uma briga entre alunos”, relata a docente.
Sem imaginar, que no momento que abriu a porta, estaria cara a cara com um aluno de 13 anos, disposto a cometer um massacre, que resultou em uma morte e deixou outras quatro pessoas feridas.
O ATAQUE
“Sou uma sobrevivente sem sombras de dúvidas, pois muita coisa poderia ter acontecido. Eu me lembro de gritar para ele parar várias vezes, e o que me traz um certo alívio, foi que parece que ele me escutou, mas eu não tinha noção do que já havia acontecido”, conta Rita.
O agressor já havia entrado em outra sala de aula e esfaqueado cinco vezes pelas costas a professora de Ciências, Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, que estava há apenas dois meses na escola e, que infelizmente, teve uma parada cardíaca após ser atacada e não sobreviveu.
Rita e Beth alguns dias antes do ataque.
Foto: Arquivo Pessoal
Além de atacar Beth, como era conhecida, o agressor de 13 anos esfaqueou um aluno que tentou parar o ataque, a própria professora Rita, nas costas e nos braços e realizou 17 facadas na outra professora de História, Ana Célia.
Os feridos foram levados para o hospital e obtiveram os devidos cuidados, já o agressor foi apreendido e levado para a Fundação CASA.
As sobreviventes: Ana Célia, Rita e Cinthia.
Foto: Arquivo Pessoal
CONSEQUÊNCIAS
Além das marcas que carregará para sempre na pele, os traumas causados pelo ataque também atingem a professora Rita. “Estou indo ao psiquiatra e ao psicólogo. Nos primeiros dias após o ataque, não me sentia segura nem na minha própria casa. Sempre fui de viajar sozinha, pegar transporte público, mas agora fico com um certo “pé atrás”, como se algo fosse acontecer. Olho para as mãos das pessoas, para ver se não estão com facas”, menciona a docente.
Braço de Rita com pontos após o ataque.
Foto: Arquivo Pessoal
Rita contou que retornou à escola na qual o ataque aconteceu somente dia 02 de maio, mas que não conseguiu passar perto da sala onde foi atacada, pois as lembranças são muito fortes. Rita ainda relatou que talvez o sonho de continuar ministrando aulas seja interrompido, pois no momento ela não está pronta para voltar.
Com relação à segurança nas escolas, afirma que a melhor solução não seria implementar policiais nos colégios, mas incorporar grupos de psicólogos para conversar com os alunos.
Entretanto, a professora destaca uma questão importante, que é o distanciamento cada vez maior entre pais e filhos, que acaba resultando em fatalidades como o massacre. “Eu tenho dois filhos, sempre trabalhei, mas a todo momento buscava um contato com eles, e isso continua até os dias atuais, mesmo que já estejam “grandinhos”. Esse contato e aproximação que está em extinção, as famílias não realizam tarefas simples juntas, como sentar na mesa para jantar”, comenta a sobrevivente.
Na área da educação, Rita é uma história de superação, pois diferente da grande maioria, só entrou na faculdade aos 50 anos. “Sempre trabalhei em agências de bancos, trabalhando com público, porém depois de tantos anos, fiquei desempregada e minha filha deu a ideia de cursar história, mas já estava com 50 anos, achava que não era mais a hora, porém ela fez a minha inscrição e pagou’, confessa a professora.
Fez o vestibular e passou em quinto lugar, e esse fato foi como uma injeção de ânimo na sua vida, pois sempre gostou de explicar as coisas no seu outro trabalho e, na escola, não seria diferente. Se identificou cedo com a nova profissão, sendo tratada com carinho pelos alunos. Mas nem tudo são flores, e eu seu corpo estará para sempre a marca do fatídico dia 27 de março de 2023.
TUTORIA E HISTÓRICO VIOLENTO
A Escola Estadual Thomazia Montoro é de período integral, das 7 às 16h, e apresenta o programa de tutoria, em que o aluno escolhe o professor que ele deseja como tutor, responsável por orientar o aluno na parte pedagógica e relacionamentos com os colegas e professores.
“Ele me escolheu como tutora, e o sentimento que tenho é que fracassei quanto a isso, pois ele foi responsável por um massacre. O peso é grande”, declara Rita.
A escola anterior do aluno agressor, Escola Estadual José Roberto Pacheco, já havia reparado em seu comportamento suspeito e até registrou um boletim de ocorrência alegando o compartilhamento de armas de fogo nas suas redes sociais.
HOMENAGEM
O Governo do Estado de São Paulo decretou a alteração do nome da estação de metrô da Vila Sônia, Linha 4-amarela, para homenagear a professora Elisabete Tenreiro.
Agora a estação passará a se chamar “Estação Vila Sônia – Professora Elisabeth Tenreiro”.
Novo nome da Estação de metrô.
Foto: Arquivo Pessoal
Reportagem de Leonardo Jardim