“Minha filha tem problemas respiratórios. Ela tem adenoide alterada e está há um bom tempo esperando vaga para passar apenas com o especialista. Não é nem para fazer a cirurgia que ela ainda precisa, e até hoje nada, ela já completou cinco anos e espera ser atendida desde os três anos”, diz Elixsandra Rosa Novaes de Lima, 39 anos, empresária, moradora do Tucuruvi e que está há dois anos aguardando sua filha conseguir consultar um especialista. De acordo com a mãe, a inflamação da adenoide já atingiu 60%.
Os problemas de saúde e a falta de prontidão das UBS e AMAS no bairro da zona Norte, Tucuruvi, apenas se intensificam. Os pacientes acabam sofrendo com a falta de responsabilidade e de médicos por parte dos postos de saúde. “Tem um postinho também perto da onde a gente mora, mas é uma calamidade, um exemplo. A minha sogra está com dengue e eles pediram para fazer um exame para saber como está a plaqueta dela. Foram cinco dias para pegar o resultado e a gente só conseguiu pegar o protocolo porque para conseguir o resultado a gente teria que marcar uma consulta com o médico para mostrar este exame. E e eu só consegui marcar pro fim do próximo mês, sendo que daqui até o dia da consulta a plaqueta dela já vai estar bem mais alterada”, relatou Rosa.
Contanto com cerca de cem mil habitantes, de acordo com o levantamento do IBGE de 2022 e apenas três UBS e um hospital público, o bairro do Tucuruvi carece dos devidos serviços de saúde pública. De acordo com os dados disponíveis nas próprias UBS, apenas em fevereiro de 2024 foram marcadas 1257 consultas na UBS do Tremembé, já na AMA UBS Integrada Wamberto Dias da Costa o número apenas aumenta. Entre fevereiro e março de 2024 cerca de 1800 consultas foram feitas. A demanda pela saúde pública acaba sendo maior se comparada ao número de médicos, de enfermeiras e de remédios disponíveis, ocorrendo de muitas famílias não receberem o devido suporte básico ao paciente na rede pública do Tucuruvi.
Com a epidemia da Dengue, a volta da Covid-19 e o surto de H1N1 em conjunto a diversos outras doenças, problemas de saúde e de acidentes, temos a intensificação das filas para triagens, consultas e principalmente internações no serviço da saúde pública. Chegam ao ponto de crianças, idosos e diversos outros pacientes não terem lugar onde esperar para serem atendidos. “Hoje cheguei era quase três horas, agora já são cinco horas, tô aqui de acompanhante da minha esposa que tá com Dengue, já é o quarto dia que estamos aqui indo nas consultas, fazendo exames e pegando os resultados, e todo dia a fila tá assim, até pior”, conta o técnico de informática Ricardo Luis Alves da Cunha, 51 anos. O técnico ainda complementa que lá “no Mandaqui por exemplo lá tá um colapso, não tem como. Cheguei lá era quatro horas da tarde. Daí era oito horas da noite e ainda estavam chamando o pessoal das dez da manhã”, diz Ricardo sobre o hospital Mandaqui localizado também no Tucuruvi.
A falta de organização acaba sendo um forte agravante da má conduta dos postos de saúde públicos do bairro, deixando à deriva dezenas de moradores enfermos e em péssimas condições, devido à demora intensa para fazer a apenas a marcação de consultas e testes, processos que deveriam ser executados com agilidade, visto a grande demanda que estão tendo atualmente. “
Aqui simplesmente não tem o que mudar, o ponto é que faltam pessoas na área médica, para atendimento e organização porque o pessoal chega sete da manhã e saí seis horas da tarde. Sem condições. Eu mesmo estou há quatro horas aqui, simplesmente para fazer um teste de covid”, contou o aposentado Augustinho Pereira da Silva Filho, 73 anos, que mesmo tendo prioridade na fila, teve que esperar horas para a realização de um teste que demora em média cinco minutos para ser feito.
“Eu mesma já perguntei a um secretário de saúde há alguns anos. Você tem plano de saúde? E ele me disse todo animado, tenho plano sim, após dizer que a saúde pública era boa”. Respondi que se “a saúde é maravilhosa, por que o senhor gasta dinheiro em plano de saúde, por que logo você paga plano de saúde para a sua família?”, diz a arquiteta Maria Augusta Soares, 59 anos. As devidas providências do governo e dos órgãos de saúde pública em relação a estas situações são praticamente inexistentes.
No dia das entrevistas presentes nesta matéria, a AMA UBS Integrada Wamberto Dias da Costa estava totalmente lotada, com muitos pacientes sentados no chão para serem atendidos. Entretanto a UBS apenas acrescentou dois médicos ao plantão para suprir as dezenas de doentes presentes. A arquiteta ainda complementa “Enquanto o político não frequentar a saúde pública, ela não vai melhorar, ao invés disso eles vão para o Einstein, para o Sírio Libanes ao invés de ir para o posto de saúde pública, assim como nós vamos”.